O Poder de Desenhar a Mão Livre na Era Digital

Nesta era digital, observamos uma grande tendência no uso de dispositivos eletrônicos onde digitamos informações por meio de teclados, o que tem transformado a forma como escrevemos e a nossa relação com a linguagem textual.

Além do teclado, em grande parte destes dispositivos encontramos recursos visuais, como ícones, ilustrações e desenhos prontos em websites ou aplicativos, que estão disponíveis para serem aplicamos em qualquer tipo de material: de um relatório à apresentação em PPT; um e-mail à animações.

 

Vejo estas facilidades digitais com bons olhos, uma vez que elas tornaram nossa vida muito mais prática e dinâmica, se considerarmos o volume de informações que precisamos produzir ou mesmo coletar e organizar. Sem contar, que ao fazer alterações nos materiais, esses recursos podem ser substituídos sem grandes dificuldades e isso é bem funcional e útil.

 

Mas por outro lado, quando optamos por não usar escrita e desenhos feito a mão no nosso processo de construção de conteúdos e informações, estamos deixando de exercitar partes importantes do nosso cérebro que nos ajudam a desenvolver habilidades como criatividade, imaginação, organização espacial, pensamento visual e até mesmo a coordenação motora, pois ao usar esses recursos prontos, não ativamos sinapses importantes para o desenvolvimento dessas habilidades.

 

E como desenhar a mão pode ajudar?

 

As imagens estão no nosso repertório há milhares de anos.

O desenho a mão livre é uma ferramenta usada como forma de expressão desde a Revolução Cognitiva (o primeiro registro encontrado data 32 mil anos), e esta atividade está no nosso DNA.

 

David Sibbet, consultor, autor e fundador da consultoria The Grove Consultants, é um grande apaixonado e estudioso do Pensamento Visual, e foi sua consultoria que desenvolveu a técnica de Facilitação Gráfica há algumas décadas atrás.

Ele diz que desenhar é uma habilidade inata, que antes mesmo do bebê balbuciar, ele gesticula para se expressar. Sibbet chama estes gestos de desenho primitivo.

Uma criança por volta dos 18 meses já tem um desenvolvimento motor suficiente para pegar a caneta e começar seus primeiros rabiscos.

Desenhar faz parte do nosso desenvolvimento e do nosso processo de percepção e expressão do mundo.

 

Quando adultos, desenhar a mão livre nos ajuda a esclarecer, ordenar e estruturar as ideias. É um meio de expressão, uma forma de transmitir um pensamento; uma linguagem que permite a fluidez entre o pensar e o gesto manual que executa tal pensamento.

 

Por isso, eu quero te dar 5 motivos para você começar hoje a desenhar a mão livre novamente:

 

  1. PENSAMENTO VISUAL

O pensamento visual também é uma habilidade, e não uma técnica como muitas pessoas pensam. É a forma como entendemos ou imaginamos algo por meio de uma imagem.

E quando desenhamos este pensamento, ele se torna tangível, nos ajudando a visualizar melhor este pensamento, situação, ideia ou qualquer que seja o conteúdo ou informação que estamos construindo.

 

  1. CRIATIVIDADE E IMAGINAÇÃO

O universo lúdico e as imagens são importantes para o desenvolvimento da nossa criatividade e imaginação.

Ser impactado por uma comunicação visual é muito benéfico e nos ajuda a entender e assimilar melhor as informações, mas se apropriar deste tipo de comunicação, ativa áreas do nosso cérebro que permitem sermos mais criativos, imaginar situações e conceitos abstratos e criar soluções visuais para eles.

E ao observarmos essas soluções visuais, podemos ter novas ideias e imaginar novas coisas, que podem ser expressas novamente pelo desenho, e assim sucessivamente como um ciclo de desenvolvimento e crescimento.

 

  1. ORGANIZAÇÃO ESPACIAL

Quando desenhamos a mão livre, despertamos nosso olhar para o mundo e percebemos detalhes e informações que passam desapercebidos. Esse exercício de observação, entre outras coisas, nos ajuda a desenvolver nossa capacidade de organizar especialmente os elementos que compõe o objeto, cena ou informação que estamos observando.

Em cada imagem que desenhamos, por mais simples que seja, organizamos elementos e dispomos no papel e esse senso de organização é o mesmo que usamos para organizar nossa mesa de trabalho por exemplo, ou mapear locais e ideias.

 

  1. COORDENAÇÃO MOTORA

O desenho a mão também impacta no aprimoramento da habilidade motora, pois nos ajuda a ter mais firmeza e eficiência com as mãos.

Com a prática, há uma melhora nas atividades neurais e os sinais passam a ser enviados do cérebro para os neurônios motores de maneira mais eficiente.

É uma atividade importante para o desenvolvimento de habilidades motoras em crianças e pode ajudar os idosos a manter sua agilidade e destreza manual.

 

  1. FOCO E ATENÇÃO

Sunni Brown conta em seu livro “Doodle Revolution” sobre os benefícios de rabiscar enquanto ouvimos alguém nos contar alguma informação. Essa prática nos mantém mais focados e melhora nossa atenção.

Quando desenhamos ao mesmo tempo que estamos ouvindo algo, nosso cérebro cria sinapses que ajudam associar aquela imagem ao conteúdo escutado. Este desenho se torna uma “chave” que facilita a memorização e quando revemos o desenho conseguimos nos lembrar mais do conteúdo apresentado, do que se apenas tivéssemos escutado sem fazer nenhum tipo de anotação visual dessa informação.

 

  1. LINGUAGEM UNIVERSAL

Alguns desenhos podem ter significados diferentes, dependendo da cultura que estão inseridos, mas a maior parte deles, são universais e interpretados por todos da mesma forma.

Já vivi a experiência de estar em uma viagem na Índia e ter uma conversa com uma mulher que não falava inglês e eu não falava o dialeto dela. Desenhamos e com o auxílio de alguns gestos, descobri que ela tinha acabado de se casar, que os desenhos em hena que tinham em suas mãos foram feitos para a cerimônia do casamento e que eu, muito interessada nos desenhos, talvez não encontrasse quem fizesse os desenhos em mim porque as “desenhistas” trabalham para as noivas e cerimônias. Também pude contar a ela que estava viajando, mas que vivia no Brasil, que não tinha um marido e que fiquei muito feliz em conhecê-la.

Não trocamos uma única palavra e mesmo assim, os desenhos os ajudaram a conversar. Como eu fiz desenhos muito simples, ela também se sentiu a vontade para desenhar também, o que fez nos deixou muito felizes.

 

 

  1. COMUNICAÇÃO E ARQUÉTIPOS

O psiquiatra Carl Jung criou o conceito de arquétipos, que são (muito resumidamente) como personagens que habitam nossa psique e que convivemos com eles durante toda nossa vida, independente da idade.

Um deles é o arquétipo da criança interior.

Quando você desenha a mão para se comunicar com outra pessoa, é como se sua “criança interior” convidasse a “criança interior” do outro pra brincar.

Isso é lindo, não? E posso te dizer que além de lindo, é muito poderoso.

Ao compartilhar seus desenhos para comunicar, explicar ou apresentar alguma informação, você irá descobrir que eles serão capazes de derrubar barreiras na sua comunicação com o outro, tornar a conversa mais leve e próxima, e criar identificação.

 

 

 

Como desenvolver esse hábito?

 

Desenhar a mão é um exercício que pode e deve ser simples, não é preciso ser um artista, nem ilustrador para usar essa prática no dia a dia.

Comece fazendo desenhos muito simples, com poucos traços como os que você fazia na infância.

Este é o tipo de desenho que devemos praticar.

Eu sempre digo pra meus alunos: MENOS É MAIS!

Regra número 1 sobre desenho para comunicação e representação gráfica.

 

Não julgue! Não importa se ele ficou torto ou sem proporção, o importante é que você consiga associá-lo àquilo que você quis representar e expressar.

 

Quanto mais você desenhar a mão livre, mais você vai se sentir confiante e a vontade com o desenho, e ele vai se tornar parte do seu cotidiano.

 

Portanto, deixe pra lá suas crenças sobre talento e seu julgamento, pegue uma caneta e um papel e comece a desenhar agora!

Seu cérebro irá te agradecer.